Com ótimo início, mas com erros na condução dos núcleos, "Haja Coração" chega ao fim apenas como uma novela mediana
"Haja Coração" teve seu último capítulo exibido nesta terça, 8 de novembro, após quase seis meses no ar. E, depois de analisar os casais Shirlipe, Gimila e o desempenho de Fernanda Vasconcelos, é hora de falar sobre cada um dos núcleos da novela que manteve a audiência de "Totalmente Demais (termina com 27 pontos de média geral), de autoria do Daniel Ortiz.
Além de analisar os núcleos, vamos ter uma análise geral da novela. Confira a seguir.
>>> Enredo principal com Tancinha 'divididinha' entre Apolo e Beto evidencia erro de desenvolvimento
Ao contrário de "Sassaricando" (1987) ---- novela na qual foi inspirada ----, "Haja Coração" teve como protagonistas o núcleo dos personagens Tancinha (Mariana Ximenes), Beto (João Baldasserini) e Apolo (Malvino Salvador). A escolha poderia até ser válida, se o autor não tivesse elevado a história desse trio à protagonistas sem criar bons conflitos para a mesma.
Durante os seis meses da trama, o enredo de Tancinha não andou. Só ficou preso à indecisão da personagem em ficar com Apolo ou Beto. Portanto, nota-se que esse foi um dos equívocos da novela. Entretanto, mesmo com tudo, Mariana Ximenes conseguiu construir uma Tancinha bem diferente da de Cláudia Raia, o que mostra que ela é uma das melhores atrizes de sua geração.
João Baldasserini, em seu primeiro papel em uma novela, conseguiu brilhar na pele de um personagem que mesclou atos de bondade e também atitudes de vilão. Um dos destaques da novela. Por outro lado, Malvino Salvador só fez em "Haja Coração" o mesmo papel que havia feito nas tramas anteriores em que participou. Uma pena.
De forma geral, o núcleo deste triângulo amoroso não teve um bom andamento e ficou andando em círculos até a reta final, quando a disputa pela guarda de Carol (Bruna Griphao), Bia (Melissa Nóbrega) e Nicolas (Henry Fiuka) deu uma movimentada na história. No entanto, mesmo assim, esse núcleo deixou a desejar.
No final, Tancinha ficou com Apolo, o que de certa maneira já estava bem clara no roteiro. Mesmo assim, foi a vitória do amor verdadeiro e a justiça foi feita.
>>> Núcleo Giovanni, Camila e Bruna: Fernanda Vasconcelos se destacou
Como já dito na minha crítica ao desempenho ótimo de Fernanda Vasconcelos vivendo a sua primeira vilã, a atriz conseguiu dominar um papel totalmente diferente daqueles que já havia feito e se destacou muito. Entretanto, se faz necessário analisar o núcleo no qual ela estava inserida: nele, ela disputa Giovanni (Jayme Matarazzo) com Camila (Ágatha Moreira), cujo texto sobre a paixão deles foi postado anteriormente.
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O núcleo teve um razoável desenvolvimento, portanto, deixou a desejar em certos aspectos. O fato de dois acidentes fazerem Camila perder a memória foi desnecessário, pois somente um, na metade da trama, seria suficiente para colocar a Camila 'boa' em conflito com a Camila 'má'. Mais um equívoco.
O final do núcleo não poderia ser diferente e a vilã defendida por Fernanda Vasconcelos acabou morrendo, após um confronto com Camila, no qual culmina em um incêndio causado por Bruna. Giovanni e Camila, no final, tiveram o desfecho merecido: juntos e felizes.
>>> Núcleo Shirlei e Felipe: casal roubou a cena e se tornou protagonista
O núcleo que mais se destacou em "Haja Coração" foi justamente o que melhor foi desenvolvido. O casal formado por Shirlei (Sabrina Pretaglia) e Felipe (Marcos Pitombo) arrebatou o público com uma história inspirada nos contos de fadas e o desempenho dos atores foi ótimo, no qual a química entre eles estava evidente.
O final não poderia ser outro. O casal teve uma filha e finalmente, depois de tantas armações, puderam viver o final feliz. Já as vilãs Vitória (Betty Gofman) e Jéssica não tiveram um final feliz.
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Logo no primeiro capítulo, Tancinha (Mariana Ximenes) estava em busca do pai. No entanto, ao longo de um mês da novela, se percebeu mais um equívoco da trama de Daniel Ortiz, lamentavelmente.
Francesca (Marisa Orth) foi um papel totalmente diferente daqueles que Marisa havia feito e revelou uma faceta dramática que não era conhecida. Foi mais um bom papel da atriz.
Carmela (Chandelly Braz) foi um papel complexo, e toda a sua raiva por Shirlei ter sido resultado de um trauma de infância foi uma ótima sacada, deixando evidente a complexidade do papel vivido por Chandelly.
No final, Tancinha, como já dito, ficou com Apolo e Francesca, Carmela e toda a família tiveram um final feliz.
>>> Núcleo Abdala: 'morte' de Teodora deixou personagens sem funções
Um dos núcleos mais promissores de "Haja Coração" também teve um desenvolvimento equivocado. Teodora (Grace Gianoukas) se mostrou logo de cara um perfil bem elaborado, onde o humor estava presente ali. Fedora (Tatá Wenerck) formou uma boa dupla com a mãe, o que deixou tudo aquilo ainda mais promissor. No entanto, com a falsa morte de Teodora ---- que seria verdadeira; mas, devido à ótima repercussão da personagem, ficou apenas desaparecida ----, o núcleo ficou completamente avulso na novela e Agílson (Marcelo Médicis), Lucrécia (Cláudia Jimenez), entre os outros personagens do núcleo, ficaram totalmente sem funções na novela.
Do meio para o final da novela, Safira (Cristiana Pereira), a Fedora de "Sassaricando", fez uma participação especial na novela das sete, mostrando que ela fazia falta nas novelas. A sua pitada de humor fez o núcleo Abdala, estagnado, a voltar a andar. Foi um ponto bastante positivo.
No final, Agílson e Lucrécia ficaram juntos, apesar de tudo que o vilão aprontou; Fedora e Leozinho (Gabriel Godoy) também resolveram viver juntos; Camila ficou com Giovanni; e Teodora ficou feliz com o Tarzan (Epanimondas - Guilherme Chelucci) em uma ilha deserta.
>>> Aparício e Rebeca: idas e vindas e enrolação ajudam a explicar equívoco do núcleo que foi o principal de "Sassaricando"
Para explicar o equívoco que foi este núcleo de "Haja Coração", se faz necessário voltar à 1987, e analisar "Sassaricando", novela de Silvio de Abreu e que serviu de base para a novela de Daniel Ortiz. Na novela da década de 80, a história de Aparício e Rebeca foi ofuscada pelo triângulo amoroso entre Tancinha, Beto e Apolo. Esse ofuscamento aconteceu em função do mau desenvolvimento deste núcleo, que foi bastante criticado na época.
Voltando à 2016, se percebe que o mau desenvolvimento deste núcleo refletiu na repetição desta mesma mal condução, uma vez que o enredo de Aparício (Alexandre Borges) e Rebeca (Malu Mader) ficou totalmente focado na enrolação e nas idas e vindas entre o casal, que só ficou junto definitivamente no final da novela.
>>> Leonora, Rebeca e Penelópe: sem histórias para contar em seis meses
O trio formado por Leonora (Ellen Roche), Rebeca (Malu Mader) e Penelópe (Carolina Ferraz), que contou com a Dinalda (Renata Augusto) também se mostrou um dos elementos promissores da novela das sete no início, mas pecou pela repetição ao longo dos meses. Ou seja, não teve história para contar das três juntas durante os seis meses em que foi exibida.
Portanto, percebe-se que não demorou muito para que as três personagens viverem conflitos que ficaram só na repetição. Uma pena.
No final, Penelópe ficou junto de Henrique (Nando Rodrigues); Rebeca com Aparício; e Leonora com Adônis (José Loreto).
>>> Penelópe e Henrique: casal com química, mas sem enredo
Como citado acima, Penelópe (Carolina Ferraz) teve um final feliz ao lado de Henrique. O casal teve química, mas, não teve, assim como as tramas citadas anteriormente, um bom desenvolvimento, mostrando que o autor não soube elaborar conflitos para o casal.
Só para destacar: a mãe do personagem só veio mostrar as caras nas últimas semanas da novela, impedindo bons conflitos para este núcleo da novela. Lamentável.
>>>> "Haja Coração" teve tudo o que uma boa novela das sete deve ter, mas se equivocou no meio do caminho e se despede como apenas uma novela mediana
Depois da análise de todos esses núcleos, se pode ver que "Haja Coração" teve como seu grande defeito o mal desenvolvimento de suas tramas. Personagens carismáticos, romances, vilã e vilão, clichês e todos os elementos de uma boa novela da faixa das sete estava presente na trama.
No entanto, o autor Daniel Ortiz se equivocou em sua segunda novela ---- a primeira foi a deliciosa "Alto Astral", em 2014/15 --- e não conseguiu evitar a famosa 'barriga' durante a sua exibição. Do que foi visto de todas as tramas ---- exceto a do casal Shirlei e Felipe ----, faltou um bom desenvolvimento e a escalação de Malvino Salvador para viver um dos protagonistas foi uma decisão equivocada, o que acabou sendo constatado logo na primeira semana de novela.
Adônis teve uma história semelhante a que Daniel Ortiz já havia contado na sua trama anterior. Nair (Ana Carbatti, atriz que viveu a mesma história em "Alto Astral"), havia abandonado o filho e em seguida, depois de ver o erro que havia cometido, acabou o adotando e ocultando a verdade. Mais um dos equívocos da novela, uma vez que o racista e inconsequente Adônis acabou tendo um final feliz com Leonora. Além disso, Apolo nem descobriu que o próprio irmão de criação sabia da armação que separou ele de Tancinha, o que deixou uma sensação de injustiça.
As últimas semanas da novela contaram com bons conflitos, mas a correria em resolver os núcleos paralelos para deixar o último capítulo praticamente inteiro dedicado à decisão de Tancinha, foi mais um equívoco na condução da novela. Além disso, revelações e a entrada de diversos personagens poderiam ter ocorridos bem antes do capítulo 100.
O último capítulo, por sua vez, como já foi dito anteriormente, foi quase que totalmente dedicado a decisão de Tancinha, que dispensou Beto e preferiu ficar com Apolo; Rebeca e Aparício finalmente ficaram juntos, depois de tanta enrolação; Penelópe e Henrique se tornaram pais; Shirlei e Felipe tiveram um feliz final, junto de um bebê; Adônis e Nair se reconciliaram; Tamara se dedicou a cuidar de crianças e se recuperou da sua doença de ansiedade; o casamento e o final feliz de Tancinha e Apolo; a reconciliação de Tancinha e Fedora; Fedora e Leozinho juntos; Lucrécia e Agílson juntos; Beto apaixonado por uma ativista interpretada por Paolla Oliveira; enfim, foi um capítulo de tudo que era esperado em um final típico de novela das sete.
Outros desfechos foram exibidos no penúltimo capítulo na segunda (7), no qual Bruna morreu após o incêndio na chácara onde mantinha Giovanni sequestrado; a morte de Vitória; o acidente que deixou o rosto de Jéssica desconfigurado e o casamento de Shirlei e Felipe.
A audiência de "Haja Coração" foi bastante satisfatória. Garantiu 27,5 (27,47) pontos de média geral, empatando com "Totalmente Demais", fenômeno de audiência exibido entre novembro de 2015 e maio deste ano. No entanto, a audiência não refletiu uma trama de qualidade, e sim uma trama que tinha todos os elementos para ser ótima, mas que, em função dos erros do autor, acaba como uma novela mediana. Tomara que "Rock Story", próxima trama da faixa das 19h, conte uma história boa, bem desenvolvida e que atraía o público.
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