"Justiça" encerra sua trajetória como um dos acertos da Globo em 2016


Nesta sexta-feira (23), chegou ao fim a série "Justiça", exibida pela Globo durante um mês. E durante toda a sua caminhada, a produção da autora Manuela Dias provocou reflexões com as quatro histórias exibidas. Quatro perguntas abriram a série: "A Justiça é mais cega que a paixão?", "Fazer silêncio é fazer Justiça?", "Existe Justiça na vingança?" e "Falta de Justiça tem cura?".


Foram 20 episódios, cinco de cada uma: às segundas, tivemos a história de romance e vingança de Elisa (Débora Bloch) e Vicente (Jesuíta Barbosa); nas terças, a história dramática de Fátima (Adriana Esteves); nas quintas, o enredo forte de Rose (Jéssica Ellen) e Débora (Luisa Arraes) e nas sextas, a triste história de Maurício (Cauã Reymond).

Com histórias envolventes, uma direção primorosa de José Luiz Villamarim e uma trilha sonora muito bem selecionada, a série "Justiça" foi uma das melhores produções exibidas na televisão brasileira, não só no ano de 2016, mas nos últimos anos. Manuela Dias, a autora que já havia feito a excelente "Ligações Perigosas" ---- exibida no começo do ano ----, fez uma história que envolveu o público e mostrou bem a realidade do Brasil, com temas como assassinatos, corrupção, eutanásia, estupro, racismo e tráfico de drogas.

Porém, alguns erros não escaparam desta produção, mas que não afetou todo o ótimo conjunto da série. Erros de cronologia na história de Maurício (Cauã Reymond) ---- não havia como ele ter sido preso na mesma noite que as outras três pessoas, pois entre o acidente da namorada dele, Beatriz (Marjorie Estiano) e a morte dela se passou um longo tempo ----- e a perda do protagonismo de Rose foram os 'poréns' da primorosa série.


A história de Elisa (Débora Bloch), desde o primeiro episódio foi uma das mais pesadas e reflexivas da série. A filha dela, Isabela (Marina Ruy Barbosa), tinha um relacionamento com o ciumento Vicente (Jesuíta Barbosa), mas quando o pai do rapaz sofre um golpe, ela acaba pensando em desistir do casamento. É quando Vicente flagra a então noiva no chuveiro com outro homem que foi ao ar uma das cenas mais impressionantes e impactantes da série: o assassinato a tiros de Isabela. Elisa aparecendo atrás de Vicente, desesperada, mostrou o quão talentosa é Débora Bloch, que conseguiu transmitir toda aquele sofrimento ao ver a filha ensanguentada. Aliás, a cena da mãe, desesperada, no chão, com o corpo da filha morta foi arrepiante. É aí que começa todo o caminho para a vingança de Elisa, que enquanto vê Vicente passar sete anos preso, vai treinando para assassinar aquele rapaz que acabou com a vida da filha dela.


Quando chegou o dia da saída de Vicente da cadeia, Elisa não pensa duas vezes e vai até o presídio com uma arma e aponta para o rapaz. No entanto, ao ver a filha dele, e a mulher do mesmo, ela acaba repensando e não o mata. Depois disso, eles acabam se encontrando várias vezes ao longo dos três episódios subsequentes (os dos dias 29 de agosto, 5 e 12 de setembro), e daí surge um controverso sentimento de amor, que acaba mostrando a dubiedade de Elisa, que provavelmente tentou superar ou pelo menos confortar a morte da filha com aquele homem que a matou e que deixava as lembranças da filha vivas para a mãe. No entanto, eles só se beijaram no final do episódio do dia 12 de setembro, quando Vicente acaba descobrindo que Elisa foi, no dia em que ele saiu da cadeia e tentou matar ele, e o rapaz acaba pedindo perdão a ela. O beijo provocou um sentimento de nojo ao ver aquelas duas pessoas que jamais deviam se envolver, mas que acabaram ficando juntos.


E ainda foram mais longe no último episódio, quando passaram a noite juntos na cama. No dia seguinte, a mulher dele, Regina, acaba indo até a casa dela e estapeia os dois e provoca uma total mudança de postura de Elisa, que agora vê que o que acabava de acontecer era um erro, mas resolve esquecer a vingança e joga a arma que iria usar para matar Vicente fora.

A separação de Regina e Vicente não demorou muito para se tornar em uma tentativa de reconciliação, que acabou sendo em função da filha, Isabela ---- mesmo nome da noiva que ele matou. Após ter a tese aprovada, Vicente acaba decidindo se distanciar de Elisa, que não ficaria mais responsável pela tese dele, mas ambos não deixariam de tentar ser amigos. Vicente acaba oferecendo carona para Elisa, que dentro do carro afirma que perdoar ele não seria possível, mas que ela estaria tentando remediar tudo aquilo. Na sequência, mais uma cena impactante: acontece uma batida de carro e Vicente fica gravemente ferido. Elisa, à princípio, liga para a emergência, mas acaba desistindo e concretizando, indiretamente, a sua vingança. Se livra de todas as lembranças da filha e do assassino da mesma, e resolve seguir a sua vida ao lado de Heitor. No entanto, Regina não aceita a morte de Vicente e afirma a Elisa que sabia que ela tinha alguma coisa a ver com o falecimento dele e começa a praticar tiros, reiniciando o ciclo de vinganças, agora com o alvo sendo a própria Elisa.

A trama das segundas de "Justiça" manteve a qualidade durante seus cinco episódios, e o sucesso e a repercussão da mesma foi gritante. Foram 27 pontos de média geral durante as cinco semanas de exibição (estreou com 30 pontos, marcou 27 no 2° episódio e 28, 25 e 25 nos episódios seguintes), se tornando um verdadeiro fenômeno. Fenômeno por sinal, muito merecido, para uma história que envolveu o público e que teve um ótimo final, mantendo a qualidade do enredo do começo ao fim. Jesuíta Barbosa e Débora Bloch interpretaram muito bem seus personagens, mostrando os ótimos atores que são.


Já a trama das terças, contou com o brilhantismo de Adriana Esteves. Fátima vivia feliz com seu marido e seus dois filhos, mas tudo muda com a chegada dos vizinhos Douglas (Enrique Diaz) e Kellen (Leandra Leal). Ela acaba tendo suas galinhas mortas pelo cachorro do casal. Quando Waldir (Ângelo Antônio), seu marido, é morto em uma briga de bar, tudo começa a desmoronar quando ela acorda, na mesma madrugada da perda do mesmo e vê seus filhos, Jesus (Bernardo Berruezo/Tobias Carrieris) e Mayara (Leticia Braga/Julia Dalavia), desesperados com o cachorro que estava agredindo o Jesus. Em um ato de extremo desespero, ela acaba matando o animal com três tiros, o que revolta Kellen, que acaba armando, juntamente com Douglas, para que Fátima fosse presa.


No dia seguinte, a personagem acaba presa, ao ser encontrada uma (de duas) latas com drogas dentro, o que faz com que ela fique presa por sete anos. Quando ela sai da cadeia, volta para o local onde tudo aconteceu e questiona Douglas sobre seus filhos e acaba sem saber muita coisa. Ao longo dos episódios, tenta refazer sua vida e enquanto trabalha, acaba sendo assaltada pelo próprio filho (que volta para casa depois) e mais adiante, descobre que sua filha, Mayara, acabou se tornando garota de programa.

No caminho, acaba conhecendo Firmino (Júlio Andrade), com quem acaba ficando junto no final. A história de Fátima em todos os episódios exibidos ficou marcada pelo drama evidente e curiosamente, foi o único episódio que teve um final feliz, muito merecido. Adriana Esteves fez uma das suas melhores personagens da carreira, Enrique Diaz se destacou e Leandra Leal mostrou uma nova faceta dela, o que acaba sendo um divisor de águas na carreira dela, marcada por mocinhas chatas nas novelas. Claro que o final feliz de Fátima não foi fácil (ela quase foi presa novamente por armação de um policial, mas foi salva por Douglas), mas foi muito merecido e justo.


A história de "Justiça" às terças também obteve uma excelente audiência e grande repercussão. Teve 25.4 pontos de média geral, sendo a terceira história mais vista da série.


Na quinta-feira (22), foi contado o final da história de Rose (Jéssica Ellen) e Débora (Luisa Arraes). Um grande erro da série foi a perda do protagonismo justamente de Rose, que só foi a protagonista no primeiro episódio e que acabou perdendo espaço para o drama de Débora, que enquanto a amiga passou sete anos presa, acusada de tráfico de drogas injustamente, acabou sendo vítima de estupro pelo pintor da casa de Elisa. Ficou evidente que a única nesta história de que buscava realmente justiça era ela. Ao longo dos episódios, Débora fez uma intensa busca atrás do seu algoz, e acabou conseguindo encontrar ele no penúltimo episódio da produção, em uma das cenas mais impactantes da série, quando o estuprador ameaça novamente a menina. Foi uma sequência muito impactante e que causou bastante revolta ao assistir.


Finalmente, no último episódio da série, Débora conseguiu se vingar do seu estuprador e o matou a pauladas, na cena mais impressionante da série. Quando ela diz: "o estuprador não para, tem que ser parado", já ficava evidente que o final seria justamente esse. E depois que ela mata ele, ainda diz: "Alguns podem chamar de vingança. Eu chamo de justiça", o que acaba mostrando que aquela atitude pode ser questionável: afinal, se tornar uma assassina foi certo?, o que fica a cargo de cada pessoa ter sua opinião sobre o fato. Luisa Arraes e Jéssica Ellen foram ótimas em suas personagens.


A história de Rose e Débora foi a segunda mais vista da série, com 26.2 pontos de média nas cinco quintas que foi exibida, sendo um sucesso de audiência e repercussão.


Às sextas, foi contada a história de Maurício (Cauã Reymond), que perdeu a mulher que amava, Beatriz (Marjorie Estiano), depois de atender um pedido de eutanásia da própria amada. Após passar sete anos preso, ele resolve se vingar do autor do atropelamento de Beatriz: Antenor (Antônio Calloni). E para isso seduz Vânia (Drica Moraes), que diante de um casamento já acabado, acaba revelando todos os podres do político que queria se eleger governador. Em um debate para televisão, todos os podres de Antenor vem a tona e ele acaba enfrentando aquela que era até então sua mulher.


Após conseguir concluir sua vingança, Maurício acaba 'descartando' Vânia, que sofre com o fato dele só ter se aproximado dela por interesse e todas as cenas de sofrimento de Vânia foram interpretadas por uma entregue Drica Moraes, que soube mostrar toda aquela dor da mulher que se sentiu usada. No último episódio da série, ela acaba escorregando e caindo do prédio durante uma discussão com Antenor, o que agravou ainda mais a situação do ex-candidato a governador, que foi preso, ironicamente, não pelos diversos crimes que cometeu e sim por um que não havia cometido, o que acontece muitas vezes na realidade.


No final, Maurício acabou conseguindo concretizar sua vingança. O homem responsável pelo atropelamento da mulher que ele amava estava preso. E na estrada, acaba se encontrando com Débora, na última cena da série (que já havia sido exibida na quinta, mas que não havia mostrado quem era o motorista), sendo um dos cruzamentos entre as histórias da série.

Vale destacar aqui o desempenho grandioso de Marjorie Estiano, que se entregou novamente em mais um papel dramático. Cada gesto de Beatriz no hospital, se vendo paraplégica foi interpretado de uma forma grandiosa e embora a participação da atriz tenha sodo bem curta, engrandeceu ainda mais "Justiça".


Entre as muitas qualidades de "Justiça", as histórias se interligando ao longo de toda a produção foi uma delas. Tudo foi feito de maneira bem amarrada, o que fez com que a série ficasse ainda melhor. A protagonista do episódio de segunda poderia virar apenas uma coadjuvante nos episódios de terça, quinta e sexta, e às vezes só iríamos entender o porquê dela estar ali no episódio da semana seguinte. Foi uma ótima sacada. Além disso, as 20 diferentes aberturas exibidas foi uma ideia bem criativa e que foi muito bem executada.

Também vale ser destacada a trilha sonora da série. Villamarim fez uma ótima seleção de músicas, como "Hallelujah" (Rufus Wainwright); "Afterlife" (Arcade Fire); "O que será?" [À Flor da Pele] (Milton Nascimento e Chico Buarque); "Fui Fiel" (Pablo); "Pense em Mim" (Johnny Hooker); "Dona da Minha Cabeça" (Geraldo Azevedo); "Revelação" (Fagner), entre outras. Foram músicas que de certa forma contaram a história da série. Mais um acerto.

O fato das cenas irem ao ar sem cortes bruscos ---- um dos defeitos de "Liberdade, Liberdade", novela das 23h exibida entre abril e agosto ----, também foi um acerto. Todos os sentimentos dos personagens puderam ser acompanhados sem interrupção. Além disso, as interpretações de Adriana Esteves, Antônio Calloni, Cauã Reymond, Débora Bloch, Jesuíta Barbosa, Jéssica Ellen, Leandra Leal, Luisa Arraes, Marina Ruy Barbosa e Marjorie Estiano também merecem menção, pois todos estes atores, e os outros também, honraram os seus personagens, deixando "Justiça" ainda mais espetacular.

Desde os primeiros trailers e chamadas, já era possível dizer que "Justiça" seria uma das melhores produções do ano de 2016. E depois do seu encerramento, nesta sexta (23), toda aquela primeira impressão foi confirmada. A série foi um sucesso de audiência (média geral de 26 pontos; meta 20) e de repercussão. Os finais em aberto abriram uma possibilidade de uma segunda temporada da produção, o que seria ótimo, mas esse fato foi mais uma ótima sacada, pois faz com que o público fique pensando no que aconteceu, por exemplo, depois de que Regina apareceu treinando tiro. Será que ela conseguiu se vingar de Elisa? Só poderemos vir a saber se a série tiver uma nova temporada; caso contrário, nunca saberemos. Da história, da trilha sonora, da direção primorosa, do elenco... Tudo em "Justiça" funcionou, e a série deixará saudades. Foi uma das melhores produções que a teledramaturgia já exibiu. A saudade será grande.

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