Eliminatórias da Copa de 2018: Em crise, Blatter pede paz, amizade e respeito na Copa, e é aplaudido de pé

Shows musicais, uma bela apresentadora, discursos e afagos. A cerimônia do sorteio das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, seguiu o roteiro “padrão Fifa”. Joseph Blatter, que tem recebido pedras e mais pedras desde que o FBI desvendou uma série de esquemas de corrupção envolvendo altos executivos da entidade e do futebol mundial, parece ter passado por uma espécie de portal da paz ao entrar no tradicional Konstantin Palace, em São Petersburgo.   

Em vez das críticas e ameaças de investigação que o levaram a abrir mão do poder e convocar eleições para fevereiro do ano que vem, ou da chuva de dinheiro que recebeu das mãos de um manifestante em sua própria casa, a sede da Fifa, o presidente foi recebido com entusiasmados aplausos de pé ao lado do presidente da Rússia, Vladimir Putin.

Palácio de Constantino estava lotado para acompanhar o sorteio das eliminatórias Foto: Reuters)

– O gesto do aperto de mãos será repetido em toda a Copa do Mundo, Não apenas um símbolo, é mais que uma simples mensagem, é um gesto de respeito, amizade, fair play e paz. A Copa do Mundo inspira as pessoas. A Fifa comunicou ao presidente Putin sua confiança extrema nas autoridades e nos cidadãos russos como organizadores – discursou o suíço, em meio a elogios e mais elogios ao país-sede.

– É um prazer das as boas vindas. Será importante que todos se sintam em casa na Rússia. Nossas cidades-sede têm grande tradição histórica e os visitantes de todo o mundo irão se familiarizar. Queremos mostrar uma Rússia muito diversa que poderá surpreender – disse Putin.

Ainda secretário-geral, Valcke
comandou o evento Foto: Reuters)

E o que dizer de Jèrôme Valcke? Na véspera, teve que admitir que dificilmente se manterá no cargo a partir do ano que vem e falou das explicações que precisa dar a patrocinadores por conta da corrupção. No palco do sorteio, trocou três beijinhos no rosto com a bela modelo Natalia Vodianova, a “Fernanda Lima russa”, apresentadora principal do evento.

As mãos de Vodianova definiram que, na repescagem intercontinental, em novembro de 2017, o quinto colocado das Eliminatórias sul-americanas enfrentará a melhor seleção da Oceania por uma vaga na Copa do Mundo. Uruguai? Colômbia? Brasil? Cabe a todos tentar a classificação direta. O outro mata-mata da repescagem será disputado por seleções da Concacaf e da Ásia.

O apresentador Dmitry Shepelev, que passou despercebido, por motivos óbvios, chamou ao palco Eto’o – que ganhou um sorriso e um “obrigado” da modelo russa pelas atitudes beneficentes – e o legendário goleiro Dasaev para auxiliarem no sorteio da África.

Samuel Eto’o, de mãos tão espertas quanto os pés, escolheu logo de cara seu país, Camarões, para enfrentar na segunda fase o vencedor de Somália x Niger. O longo chaveamento se estendeu com um sem número de partidas que deverão ser sofríveis tecnicamente, mas emocionalmente ricas entre países economicamente pobres, e terminou com uma mensagem política do atacante da Sampdoria.

– Quero mandar condolências a meu país que sofreu um duplo atentado há poucos dias. Um país tão sofrido. Espero que Camarões se classifique da melhor maneira para a Copa do Mundo. Meus irmãos estão trabalhando de maneira árdua – afirmou.

O feito de Butão, que eliminou o Sri Lanka em sua primeira participação num torneio oficial, foi exaltado na explicação das Eliminatórias asiáticas, que já começaram. Uma citação rápida.

Para o sorteio da Concacaf, que abriga as Américas Central e do Norte, e o Caribe, a presença de Fabio Cannavaro fez com que a ala feminina da plateia devolvesse na mesma moeda os suspiros pela modelo Vodianova. Ele e o português Madjer, do futebol de areia, desenharam a trajetória dos países até a Copa-2018. Duelos interessantes já estão garantidos, como entre México e Honduras no Grupo A da quarta fase, e Costa Rica e Panamá no Grupo B.

Blatter coça a cabeça durante o evento na Rússia: primeira viagem após prisões de dirigentes em maio (Foto: Reuters)

Com a mão no rosto, Blatter observou com atenção ao casal de dançarinos que precedeu o sorteio da Oceania. Nenhum país tem vaga garantida. Aquele que conseguir chegar ao final como melhor disputará com o quinto colocado da América do Sul o direito de ir à Copa.

Antes de sortearem as bolinhas sul-americanas, Forlán disse que espera ver o Uruguai na Copa de 2018. Já Ronaldo fez um discurso político e breve.

– Um sonho muito especial é ver o mundo sem violência, fome e pobreza.

Ronaldo participou
do sorteio sul-americano (Foto: Reuters)

Ronaldo não falou de seu pesadelo, mas uma estreia contra o Chile, campeão da Copa América, fora de casa, era mais difícil do que se imaginava. Dunga fez cara de poucos amigos.

– Jogar contra o campeão sem o Neymar, que estará fora por dois jogos, será complicado – previu o Fenômeno, citando a suspensão do craque, que também perderá a partida contra a Venezuela, em casa, pela segunda rodada, e voltará diante da Argentina.

O sorteio europeu, mais pomposo de todos, com grandes e tradicionais seleções, fechou o evento. A Fifa atendeu um pedido da Uefa e “protegeu” Alemanha, Espanha, França, Holanda, Inglaterra e Itália, colocando-as em grupos de seis equipes.

 O encerramento pomposo no suntuoso palácio deu a sensação de que a Copa da Rússia, daqui a três anos, vai esbanjar fortunas em estádios e obras. Resta saber quem irá ver de perto.