História clássica, ótimas interpretações e produção caprichada foram as marcas de "Além do Tempo"
"Além do Tempo", que chegou ao fim nesta sexta (15/01), pode ser definida como a melhor novela de Elizabeth Jhin. A trama, com colaboração de Eliane Garcia,Lílian Garcia, Duba Elia, Vinícius Vianna, Wagner de Assis e Renata Jhin e com a direção geral de Pedro Vasconcelos e núcleo de Rogério Gomes, foi a quarta novela da autora a abordar a questão da espiritualidade.
'Eterna Magia' (2007), 'Escrito nas Estrelas' (2010) e 'Amor Eterno Amor' (2012) --- estas duas últimas foram as tramas anteriores da autora com esse tema --- da espiritualidade ---, todas na faixa das 18h.
Em Além do Tempo, que estreou na programação da Globo em julho de 2015, a autora trouxe uma proposta ousada e muito bem elaborada: abordar duas novelas em uma, mas com uma história que ligassem uma fase a outra: a história de um amor forte, tão forte que nem o tempo é capaz de apagar. A história de amor entre Lívia (Alinne Moraes) e Felipe (Rafael Cardoso) foi instigante e muito boa de se acompanhar durante os seis meses e os 161 capítulos exibidos da trama.
Vamos analisar cada uma das duas fases.
A Primeira fase da trama, que contou com 87 capítulos e foi ao ar de 13 de julho à 21 de outubro, foi muito bem desenvolvida pela autora, pelos colaboradores e pela direção da trama. Logo no primeiro capítulo, foram apresentados o trio principal da novela: Felipe (ótimo Rafael Cardoso), Lívia (excelente Alinne Moraes) e Pedro (muito bem interpretado por Emílio Dantas).
Também no primeiro capítulo, a Condessa Vitória Castellini, interpretada por Irene Ravache, uma das grandes atrizes do Brasil e que brilhou muito na trama, teve sua primeira cena indo ao ar.
Ao longo das semanas, vários outros personagens foram apresentados: Afonso (Caio Paduan), Anita (ótima Letícia Persilles), Ariel (Michel Melamed), Alex (Kadu Schons, grata surpresa de "Os Dez Mandamentos", da Record), Bento (Luiz Carlos Vasconcelos), Conde Bernardo Castellini (Felipe Camargo), Dorotéia (Júlia Lemmertz, que deu show na novela), Emília (Ana Beatriz Nogueira), Gema (um ótimo papel que recebeu a veterana Louise Cardoso), entre outros atores/atrizes que tiveram personagens que engradeceram e muito a novela das 18h.
Entre as melhores cenas da primeira fase está o reencontro de Emília e Vitória, ainda na primeira semana da novela, a cena do incêndio da casinha de Emília que Vitória planejou, o reencontro de Bernardo e Emília (depois de anos pensando que o amado estava morto), a cena em que Berenice (Elisa Brites) conta a Severa (Dani Lins) que Melissa (Paolla Oliveira) armou para ela e que nunca traiu Felipe. Além dessas, as cenas da última semana da novela merecem menção aqui: Alex entrega o diário a Felipe, graças a intervenção de Severa; Felipe discute com Melissa e termina tudo com a vilã; Felipe e Lívia abandonam o casamento que não aconteceu, chocando todo o público presente. Essa cena, aliás, foi uma clara alusão aos contos de fadas.
Outras cenas que também foram ao ar na última semana e que merecem destaque são:
- Vitória atinge o próprio filho com um tiro, pensando que era algum bandido;
- Emília aparece para Vitória e elas tem uma longa discussão;
A melhor cena da primeira fase da novela foi justamente no penhasco. Tudo começa quando Lívia e Felipe se declaram um para o outro justamente perto de uma cachoeira. Aparece Pedro e desafia o personagem de Rafael Cardoso a lutar esgrima com ele. Felipe aceita e começa uma longa luta, que só "termina" quando Melissa aparece por trás de Lívia e a joga do penhasco.
Pedro, em um ato de extrema loucura e desespero, enfia a espada no peito de Melissa, a matando na hora. Logo em seguida, vai em direção ao penhasco e vê Felipe e Lívia se segurando nas pedras, sendo que no caso é o Felipe que segura o seu grande amor para não cair.
Mesmo com Lívia implorando para que ele salvasse os dois, Pedro não dá ouvidos e enfia a espada no peito de Felipe, matando-o na hora e os dois caem no rio, mortos e juntos.
Vale mencionar o ótimo trabalho na edição da mudança de fase. Ao som de "The XX", do grupo Together, Lívia e Felipe afundaram, abraçados e com um diálogo mostrado nos capítulos finais da primeira fase. Leia:
Lívia-Você sabe rezar? Reza comigo. Tem que ter fé.
Felipe-Eu não acredito em um Deus que parece se divertir com o sofrimento humano.
Lívia- Eu sei o quanto está sofrendo. Eu sinto muito,me dói muito vê-lo assim. Eu queria tanto que fosse diferente. Que tudo fosse diferente.
Felipe- Que Deus é esse? Que parece se divertir? Que permite que os que se amam se separem? Que permite que você...Que eu amava. Que eu nunca deixei de amar.
No movimento das águas, acontece a passagem de tempo mais longa da história da teledramaturgia: 150 anos. De 1895 para 2015, todos os personagens reencarnaram para corrigir seus erros do passado e evoluir.
A Segunda fase, por sua vez, teve 74 capítulos, exibidos entre 22 de outubro de 2015 e 15 de janeiro desse ano. Logo na primeira cena, a do capítulo 88, Lívia e Felipe se veem pela primeira vez e é amor à primeira vista e os dois tinham a impressão de que já se conheciam de algum lugar.
Na primeira fase, Rafael Cardoso foi o Conde Felipe Castellini --- obviamente rico ---- e Alinne Moraes foi Lívia Castellini, uma humilde moça criada por Emília (Ana Beatriz Nogueira), que por sua vez, vivia a tristeza de pensar que seu grande amor, o Conde Bernardo Castellini estava morto (no final os dois se reencontraram e foram felizes) e que tinha um grande ódio da Condessa Vitória Castellini, devido ao fato dela ter separado ela de Bernardo e também por ela ter armado para matar a mãe de Lívia, mas quem acabou sendo vítima acabou sendo o próprio filho da Condessa. Além do que já foi dito, a Condessa exigia que Felipe se casasse com Melissa, uma mulher que fazia de tudo pra ter o amor do conde. Já na segunda fase, aconteceram muitas mudanças nesse núcleo principal da novela.
Felipe se tornou um humilde vinicultor e Lívia, uma empresária bem sucedida e rica. Felipe era casado com Melissa (Paolla Oliveira), com quem teve Alex, que devido ao "abandono" do pai na primeira fase, tinha vários pesadelos pensando que o pai iria o abandonar. Cenas ótimas protagonizadas por Rafael Cardoso e Kadu Schons, que brilharam nas cenas em que o pai iria lá confortar o filho.
Do outro lado, Lívia novamente voltou como filha de Emília Beraldini, que por sua vez, era filha da Vitória Ventura, mulher que tanto odiou na primeira fase, no século XIX. Nesta segunda fase, Vitória acabou abandonando a própria filha, para viver um grande amor. Pouco tempo depois, retornou, mas Alberto (interpretado de forma magistral por Juca de Oliveira) inventou que a filha estava morta, lhe entregando um anúncio de morte da Mili.
Entre os outros núcleos da história que sofreram alterações, estão o fato do Mássimo (Luís Melo) voltar solteiro e não ser pai nem de Bianca (Flora Diegues) nem de Felícia (Mel Maia) e ter pavor a casamento; Gema (Louise Cardoso) não ser mãe de Pedro e casada com Queiroz, um homem preconceituoso e machista e ter Mateus (Cadu Libonati) --- um mediúm --- como filho; Rosa (Carolina Kasting) e Bento (Luís Carlos Vasconceloa) serem casados, mas separados; Chico (João Gabriel D’Aleluia) ser órfão, mais criado por Gema; Raul e Bernardo serem amigos; Bernardo e Bento serem irmãos, entre outras mudanças.
Primeira fase foi instigante e a segunda foi intensa
Analisando friamente as duas fases, pode-se constatar que na segunda fase a novela acabou perdendo um pouco do ritmo, que entre novembro e janeiro, acabou ficando cada vez melhor. Mas, entre a primeira e a segunda fase, a fase de época foi a melhor,bem mais ágil e instigante, com acontecimentos a todo vapor e ótimos ganchos.
Já a segunda fase foi bem intensa, com ótimas cenas, entre elas: Lívia e Felipe se conhecem no metrô; Lívia pisa nas uvas com flashbacks da mesma cena no século XXI; Alberto e Vitória se reencontram e ele revela que inventou a morte da própria filha; Emília revela a Vitória que é filha dela (vale mencionar que o gancho do capítulo 144, no dia 26 de dezembro, em no qual Vitória acaba invadindo a casa de Emília e as duas ali, juntas, para um acerto de contas final. A cena foi mesclada com flashbacks dos confrontos das duas na primeira fase e foi perfeita); A cena do acidente de Emília, que teve a seguinte mensagem enquanto a cena ia ao ar: "Se adiantasse aconselhar eu diria o seguinte pra você:
Pense muito,
Antes de praticar qualquer ato, antes de dizer qualquer palavra,
porque tudo volta...
E uma hora a gente paga, cada centavo."
Outra cena que merece destaque é a que Emília acorda do coma e chama Vitória de mãe e as duas se abraçam, emocionadas. Cena linda demais.
Finalmente na segunda fase, mãe e filha se perdoaram (Foto: Reprodução)
No penúltimo capítulo, que foi ao ar na quinta-feira (14), as cenas em que Melissa surta após perder a guarda de Alex para Felipe e a de Alberto tentando subir a escada para pedir perdão a Emília e caindo da mesma foram impactantes, em que Juca de Oliveira e Paolla Oliveira brilharam. Mas a cena de maipr destaque do capítulo foi a cena do abraço de Emília e Vitória, que no século XXI conseguiram se perdoar, o que não aconteceu no século XIX. Ana Beatriz Nogueira e Irene Ravache deram um show e honraram o que se espera delas.
Já o último capítulo, que foi ao ar na sexta (15) e foi reapresentado neste sábado (16), foi irretocável. Logo na primeira cena, Emília e Vitória mostram a Alberto que elas o perdoaram, mas ele acaba morrendo, assim como na primeira fase.
Em seguida, Lívia consegue o que não conseguiu no século XIX: unir Vitória e Emília. Em uma belíssima cena, as três gerações de atrizes estavam lá, juntas. Logo após essa cena, Pedro vai até o colégio de Alex e sequestra o menino, dizendo que a mãe dele --- Melissa ---, tinha permitido uma viagem dele para o Rio de Janeiro, sendo que a personagem de Paolla Oliveira nem sabia do plano do parceiro.
Com muita ação e adrenalina, Felipe consegue salvar o filho das garras do vilão e ainda acerta um murro na cara do personagem de Emílio Dantas. Depois disso, o vilão, juntamente com Melissa, tentam fazer com que Lívia e Felipe vendam a parte de Melissa para Pedro, mas sem êxito. Os vilões tem uma forte discussão e Pedro diz que não pretende desistir. Logo em seguida, uma das últimas cenas faz uma clara alusão ao final da primeira fase. Tudo volta para ser resolvido no mesmo penhasco em que os personagens da Alinne, da Paolla e do Rafael foram assassinados por Pedro. Vamos à descrição da tensa cena.
Lívia e Felipe estão conversando e se viram para ir embora, quando dão de cara com Pedro, que diz que quer ver os dois sofrendo muito, especialmente Felipe. O vilão pede para o mocinho sair da frente de Lívia, mas como ele não sai, dá um tiro e o casal se desequilibra e caem do penhasco.
Pedro se aproxima para repetir aquilo que fez na primeira fase: matar o casal. Mas, dessa vez, Melissa pega o vilão por trás e em uma briga pela arma, ela acaba matando Pedro e assim, vingando a sua morte na primeira fase. Tudo ao som de "The XX", assim como na cena da primeira fase.
Após matar Pedro, vem a redenção da vilã. Com a ajuda espiritual de Ariel, ela acaba salvando a vida do casal que tanto odiou. Mostrou que evoluiu.
Após essas cenas tensas, tivemos ainda: Felipe e Lívia vencendo uma competição de espumantes; Dois casamentos --- o de Anita com Afonso, após idas e vindas nas duas fases e o de Mássimo e Salomé ---, Anita tendo com Afonso o filho que tanto desejava, uma confraternização entre todos os personagens, com o Ariel e o Mestre (Othon Bastos) indo embora e a cena final foi um longo beijo protagonizado por Lívia e Felipe, que finalmente, depois de mais um século, seriam felizes para sempre.
Ao longo do último capítulo, duas mensagens merecem menção. A primeira é a mensagem "A Lei do Amor", pronunciada por Ariel, Cícero Leia:
ARIEL – É hora de colher. Não é mesmo, mestre?
MESTRE – E de plantar para o futuro, Ariel. Por isso, fica permitido aos novos tempos, dizer: “Eu te amo”.
ARIEL – Uma vez pela manhã, outra pela tarde e outra pela noite no mínimo.
MESTRE – Fica estabelecida, uma nova lei. A lei do amor. E fica permitido conhecer a verdade da vida, a ausência da morte e a eternidade da alma.
ARIEL – Fica permitido dizer ‘Obrigado’, ‘Por favor’, ‘Com licença’.
MESTRE – E fica permitido entender, que o erro é estágio da evolução. E principalmente, fica totalmente permitido, PERDOAR e SE PERDOAR.
CÍCERO – Fica permitido poupar água, partilhar comida, cuidar dos enfermos, do corpo físico e espiritual.
ARIEL – Fica permitida a presença de irmãos iluminados, levando luz e amor, nos hospitais, nas escolas e nos centros de recuperação física e espiritual.
MESTRE – Ficam permitidos, o bem, a paz, a compaixão e a caridade. E revogam-se todas as permissões em contrário.
Além dessa linda mensagem, a novela encerrou com o mediúm Chico Xavier com uma ótima reflexão. Leia: "Então, é possível, que tenhamos raiva ou que tenhamos ódio, é possível,
sem termos direito para isso. Porque o ódio que sentirmos ou a cólera que alimentemos recai sempre sobre nós, no sentido da doença, de abatimento, de aflição e só pode nos causar mal, já que deixamos, há muito tempo, a faixa da animalidade para entrarmos na faixa da razão. Somos criaturas humanas e por isso devíamos sentir a verdadeira fraternidade de uns para com os outros, sem possibilidade de nos odiarmos, porque os irmãos verdadeiros nunca se enraivecem, uns contra os outros".
AS INTERPRETAÇÕES MAGISTROSAS
Alinne Moraes e Rafael Cardoso tiveram muita química e deram show na novela, Irene Ravache merece muitos aplausos, suas atuações foram ótimas e ela soube diferenciar muito bem a fria e rica Condessa Vitória Castellini da amargurada e falida Vitória Ventura. Já Ana Beatriz Nogueira conseguiu ser tão boa na segunda fase como foi na primeira com a amargurada Emília Beraldini (na primeira fase Emília di Fiori). Vale elogiar ainda: Juca de Oliveira (Alberto), Luis Melo (Mássimo), Inês Peixoto (Salomé), Luiz Carlos Vasconcelos (Bento), Carolina Kasting (Rosa), Júlia Lemmertz (Dorotéia), Nívea Maria (Zilda), Romulo Estrela (Roberto), Dani Barros (Severa), Felipe Camargo (Bernardo), Letícia Persiles, Caio Paduan, Louise Cardoso (Gema), Val Perré (Raul), Zécarlos Machado (que entrou na segunda fase como o preconceituoso Queiroz), Carlos Vereza, Norma Blum (Matilde), Ana Flávia Cavalcanti (Carola), Daniela Fontan (Rita), Flora Diegues (Bianca), Wagner Santisteban (Pérsio), Marcelo Torreão (Botelho), Nica Bonfim (Neném), Klara Castanho (Alice), Maria Joana (Michele), Cadu Libonati (Mateus), Othon Bastos (Mestre), Michel Melamed (Ariel), Cassiano Carneiro (Walmir), Saulo Arcoverde (Cícero), Elisa Brites (Berenice) e as crianças Mel Maia, João Gabriel D`Aleluia (Chico) e Kadu Schons (Alex).
"Além do Tempo" foi uma excelente novela, teve um elenco de peso, uma fotografia caprichada, uma excelente direção e chegou ao fim cumprindo seu objetivo: mostrar a evolução (ou não) dos personagens. E foi um sucesso de repercussão e de crítica. Que venha 'Êta Mundo Bom!'.
Em Tempo: o último capítulo da novela marcou 21.1 pontos de média com 24.6 pontos de pico, segundo dados preliminares do Ibope na Grande São Paulo, superando sua antecessora 'Sete Vidas', que marcou 20.
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